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“Em todo adulto espreita uma criança – uma criança eterna, algo que está sempre vindo a ser, que nunca está completo, e que solicita cuidado, atenção e educação incessantes. Essa é a parte da personalidade humana que quer desenvolver-se e tornar-se completa”. (JUNG)

A Criança Interior, em termos psicológicos é um SIMBOLO – ou seja, um meio para entender um fato psíquico, um fato que ocorre dentro de nossa alma. Um símbolo que constela as nossas memórias da infância sejam elas boas ou más.

Todos fomos crianças um dia. A infância de cada um é uma história única, recheada de sonhos, emoções, traumas, frustrações. Grande parte, se não a totalidade desse material psíquico, jaz adormecido em alguma parte secreta do nosso ser.

A criança que fomos um dia ainda sobrevive dentro de nós, precisando de atenção e cuidados. Ela vive como parte da nossa alma, atuando muitas vezes como uma subpersonalidade. Influenciando a nossa vida adulta de forma positiva ou negativa. Na jornada da nossa alma, em busca do autoconhecimento que é a nossa cura real, precisamos encontrar essa criança e acolhê-la em seu aspecto dual (luz e sombra).

“Vinde a mim as criancinhas” dizia o doce Rabi…” .

“Se não te tornares como uma criança, não herdareis o Reino dos Céus”.

A busca pela nossa totalidade (Self), “o Reino de Deus em nós” – passa necessariamente pela integração de todas as “partes” que nos habitam. Resgatar a criança interior é parte desse processo.

Contudo, não podemos deixar de lembrar que a infância tem duas dimensões: a ignorância e a inocência. Precisamos compreender a diferença entre SER como uma criança e TER atitudes infantis.

SER COMO UMA CRIANÇA nos transporta novamente ao estado de pureza e inocência. Nos faz olhar a vida e as experiências que ela traz com os olhos do encantamento, do descobrir e do redescobrir a grande magia que é “brincar de viver”, tão bem expressos pelos versos de Fernando Pessoa:

“O meu olhar é nítido como um girassol,
Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para a esquerda
E de vez em quando olhando para trás…
E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu tinha visto.
E eu sei dar por isso muito bem..
Sei ter o pasmo comigo
Que tem uma criança se, ao nascer,
Reparasse que nascera deveras…
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do mundo…”

Mas a criança interior tem o seu lado sombrio. Quando uma pessoa diz à outra: “Não seja infantil!” – está se referindo a um comportamento que não tem a ver com a inocência da infância, e sim com padrões de comportamento norteados pelo aspecto “ferido” da nossa criança interior. O aspecto que ignora (desconhece) a realidade, e que vê o mundo ainda, pelos olhos “daquela criança” que o adulto foi um dia. Que adoeceu emocionalmente pela falta de amor ou de limites. Pela falta de espaço para demonstrar seus sentimentos reais (tristeza, raiva, frustração), pela necessidade de aprovação, culpa, vergonha, críticas, cobranças e comparações humilhantes…

A criança que fomos um dia, internaliza tudo isso, registrando como rejeição e abandono… Os aspectos inocentes, lúdicos, criativos, espontâneos desaparecem nas sombras do inconsciente… E vamos perdendo o contato com esses aspectos à medida que vamos “adultescendo”.

E o “lado criança” que acaba por prevalecer no adulto é o lado sombrio e frustrado, responsável por tantas dores emocionais que se carrega pela vida à fora…

É o lado sombrio da criança interna que nos leva agir de maneira infantil. Que nos torna magoados, inseguros ou descontrolados diante de situações que nos causam sofrimento psíquico. Que chora desconsoladamente quando nos sentimos abandonados, sozinhos, angustiados, precisando de “pai” e “mãe” que dê colo.

Trabalhar o lado sombrio da criança é parte importante do nosso processo de amadurecimento. Do contrário continuaremos a nos relacionar conosco e com o mundo de maneira infantil, buscando formas inadequadas de preenchimento emocional, gerando muitas vezes relacionamentos disfuncionais, neuróticos, baseados mais na dependência do que na troca.

O resultado acaba sendo mais mágoas, mais frustrações, mais sentimentos de inadequação…

Somente entrando em contato com essa criança interna ferida é que poderemos curá-la. Precisamos acolhê-la, ouvir o que ela tem a nós dizer, dar a ela o colo, o apoio e a compreensão necessária. Nós mesmos precisaremos ser os “pais” e “mães” amorosos dessa criança.

Não podemos seguir pela vida culpando os nossos pais. Com certeza eles fizeram o que puderam fazer. Ofereceram emocionalmente aquilo que tinham condições de oferecer. O fato de um ser humano se tornar pai ou mãe, não dá a ele superpoderes. Eles são apenas adultos que tiveram filhos, e com certeza também traziam uma criança ferida dentro de si.

É preciso compreender isso. Resgatar a história da nossa infância, fazendo uma releitura das experiências vivenciadas, não apenas com o olhar infantil da criança magoada, mas e principalmente, com o olhar de gratidão pelas oportunidades de evolução que a nossa alma teve. Este pode ser o inicio da nossa cura emocional. Por que como disse Jean Paul Sartre:

“Não importa o que nos fizeram, o que importa é aquilo que fazemos com o que fizeram de nós”

E é através da cura dessa parte doente da nossa alma que a verdadeira criança poderá emergir.

A Criança Sagrada! Que voltará para assumir o seu lugar no santuário de nossa alma. Transbordante de criatividade, amor e inocência.

E integrados a ela poderemos então celebrar a vida…Repletos de gratidão, de PAZ e de LUZ!

(A Criança Divina que habita o meu coração saúda a Criança Divina que habita o seu coração)

Irene Carmo Pimenta

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